Coisas de Laurinha

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Quando eu fiz o curso de babá na Mommy to Be, aprendi efetivamente uma série de coisas que normalmente ‘desconfiamos’ como devemos fazer, mas nunca precisamos. Uma das aulas mais importantes é sobre ‘acidentes domésticos’.

A criança entra na fase oral logo. E essa fase pode ‘demorar’ um bocado pra passar.

A Laura tem dois anos e cinco meses e AINDA está na sua fase oral. Adora colocar tudo na boca, principalmente objetos pequenos e ‘macios’.  Procuramos tomar todos os cuidados possíveis com seus brinquedos. E brinquedo, para a Laura, não abrange apenas seus itens infantis. Para ela, TUDO é brinquedo. E imagino que assim deve ser com qualquer criança.

Às vezes, chegamos a pensar que a Laura ‘prefere’ objetos que não são efetivamente brinquedos aos seus brinquedinhos, tamanha sua persistência em querer pegá-los.  E dependendo do objeto, após conseguir tê-lo em suas mãozinhas o mesmo vai para a boca.

Devido a essa tendência da ‘dona civetta’, procuramos manter objetos que são perigosos longe do seu alcance. E, considerando sua estatura avançada para sua idade (96 cm), o ‘longe’, precisa ser ‘bem longe’ mesmo.

Mas não dá pra cuidar de tudo o tempo todo. Mesmo que você seja a ‘Super Nanny’, não há como estar 100% do tempo em cima e pegar tudo. Mesmo porque, dessa maneira podemos até sufocar a criança que precisa aprender algumas coisas ‘por experiência’. E acreditem, mesmo estando em cima, direto, eles conseguem driblar a gente.

Sexta-feira passada a Laura chegou da escola dormindo e assim ficou até o meio da tarde. Normalmente não almoça quando isso acontece, faz um lanche leve, com um suco de frutas e torradas. Recusou as torradas e tomou o suco. Brincou espevitadamente o restante da tarde, jogando seus brinquedos para fora das caixas,  pulando no colchão que agora fica na sala especialmente para ela e assistindo seu DVD favorito dos Mecanimais. Jamais imaginaria que havia algo ‘errado’ com ela.

Por volta das 18:30, ouvi um barulho ‘diferente’ na sala. Semelhante ao ruído de ‘descolar’ o velcro, sabe? Como a Laura tem o costume de pegar seus tênis e ficar abrindo e fechando o velcro deles, não liguei. Continuei minhas tarefas na cozinha. Porém, o barulho veio de novo, seguido de uma tosse engasgada e um pequeno choro. Obvio, fui investigar.

Quando cheguei na sala me deparei com ela de pé, toda suja. Ela havia vomitado. O primeiro barulho que eu ouvi, foi o primeiro vômito. Sei que parece absurdo, mas o ruído do liquido caindo no chão de cerâmica foi muito semelhante ao do velcro. Enfim, o que ouvi depois foi o segundo vômito e cheguei na sala a tempo de ver a terceira vez.

A primeira coisa que fiz, foi pegar uma toalha no banheiro e limpar a criança, procurando esconder todo meu nervosismo e acalmando-a. A Laura não fala, não temos como saber se está bem, o que está sentindo a não ser pelas suas reações. Assim que a limpei, a coloquei no colchão sentada e passei a limpar a sujeira toda, olhando para ela e observando seu comportamento.

Enquanto limpava a sujeira, repassei mentalmente o que a criança havia comido durante o dia. E como mencionei, ela não ingeriu nada em casa a não ser o suco de frutas. É algo nojento que vou dizer agora, mas é necessário: examinei o vômito e fiquei pasma. A quantidade de ‘papel mordido’ que vi foi assustadora. Sim, é nojento e horrível isso, mas se mostrou totalmente útil: ela havia ingerido papel. A próxima pergunta era, ONDE? A fonte do papel precisava ser eliminada.

Considerando que ela NÃO COMEU comida em casa e só tomou suco, eu peguei um pedaço do papel ingerido, coloquei num papel higiênico deixando secar e terminei de limpar a sujeira, para preparar um banho para ela e entrar em contato com o médico, além de avisar os pais, pois poderia ser necessário levá-la a um PS.

Pedaço de papel ingerido

Enquanto isso, ela voltou a pular sobre o colchão, subir no sofá, correr pela sala limpa. Me pediu água, a qual com receio eu dei em pequena quantidade. Era óbvio que ela estava com sede, havia acabado de vomitar.

Ela foi pra sala beber sua mamadeirinha de água. Liguei para seus pais e enviei um e-mail ao pediatra, informando o ocorrido e perguntando se além do leite eu deveria dar algo mais. Examinava o pedacinho de papel (foto acima) e considerando tudo que mencionei acima, a imagem dela de manhã entrando no parquinho e indo em direção a uma das tias que tinha um frasco de bola de sabão em sua mão veio nítida como num filme. E mais a lembrança da imagem do rótulo do frasco. Era o rótulo do frasco de bola de sabão, eu tinha quase certeza.

Um ‘adendo’ aqui. Durante a adaptação no começo do ano as professoras usavam muito bolas de sabão para atrair sua atenção e que nós pudessemos ‘partir’ deixando-a lá. E nesse período ela chegou a trazer dois desses frasquinhos. E agora, havia algumas crianças em adaptação na escola então, as bolinhas de sabão estavam ‘em alta’ novamente. 🙂

Não me perguntem como, quem me conhece sabe que às vezes eu mal lembro o que comi no dia anterior. Mas eu lembrava da p**** do rótulo do frasquinho e portanto, ela havia ingerido o papel na escola.

Ok, muita calma então. Antes de eu sair chutando o balde em cima da escola, precisava confirmar isso. É como qualquer coisa: não podemos sair apontando o dedo na cara de ninguém e afirmar as coisas sem ter certeza.

A primeira coisa que pensei é: verificar os objetos da casa, principalmente os frascos de bola de sabão e confirmar se era daqui o papel ingerido. Peguei todos os frascos de bola de sabão da casa e examinei, confirmando que NÃO ERAM eles. Dei uma geral ‘rápida’ nos itens que ‘não eram brinquedos’ no meio dos brinquedos dela, procurando por alguma coisa que tivesse rótulo de papel e que parecesse com aquilo, procurando principalmente objetos com rótulo ‘comido’. Não encontrei nada aqui de casa e tinha quase certeza de que não encontraria, porque na minha cabeça a imagem do rótulo do frasco da escola voltava direto.

Confesso que fiquei com muita raiva na hora. É irracional da gente ao ver uma criança tão pequena passando mal daquela maneira. Ela estava bem, parecia que havia sido apenas a intoxicação pelo rótulo. Não havia o que fazer mais, guardei o pedacinho para levar na escola no próximo dia de aula e comparar com os rótulos dos frascos de lá. É, parece coisa de CSI, mas era a única ‘prova’ que tinhamos de que era dali.

Terminei de preparar o banho dela e como sempre faço, a chamei para o banheiro, ela veio correndo toda feliz e faceira pulando para que eu tirasse sua roupinha e ela pudesse entrar em sua banheirinha, o que me deixou aliviada, ela estava realmente bem e fora só o mal estar do vômito.

Durante o banho, enquanto eu lavava suas costas ela se inclinou para trás com uma ânsia. Fez isso duas vezes. E confesso que não faço idéia de COMO pensei no que fazer, eu simplesmente fiz (mas sei que foi algo que aprendi no curso de babá). Empurrei a cabeça dela para frente para que ela não engasgasse e a ergui da banheirinha pela barriga, deixando-a levemente pendurada e com a o rosto virado para o chão. Ela então vomitou novamente. Choramingou após ter vomitado. Aproveitei o banho e a lavei, tirando-a do banho em seguida. Ela ficou um pouco amuada, mas segundos depois estava pulando e tentando tirar a toalha das minhas mãos, fugindo pelo banheiro para que eu não secasse seu cabelo. Mesmo vendo-a assim, agora a apreensão era maior. O vômito tinha que parar senão ela iria desidratar.

Ela saiu do banho correndo pra sala pra brincar, eu vim pro computador ver se o médico havia respondido. Ele disse que era bom dar o leite e observar, informa-lo se ela vomitasse novamente. Bom, ela vomitou e observei que não saiu NADA além de líquido. Liguei para ele dessa vez. Ele receitou o medicamento para cortar o enjôo e hidratá-la.

Ela pediu água novamente. Tentei explicar a ela que ela não podia beber água naquela quantidade, mas ela não entendeu. Nem tudo eles entendem nessa idade e sabendo que ela provavelmente vomitaria de novo, dei a água e já fui pra sala com duas toalhas de banho. Fiquei observando de perto. O pai chegou com o medicamento, tentamos ministrar em dose mais lenta por causa do gosto ruim. Ela ingeriu mais água nesse processo. E eu não estava errada. Meia hora depois, ela vomitou tudo novamente. E dessa vez só a água mesmo. Não havia mais nada no estômago.

Como fazer uma criança que não fala e não entende o que está havendo, compreender que ela precisa ingerir 15 ml de um remédio com um gosto horroroso? Não sei as outras crianças, mas com a Laura não há o que fazer a não ser dar á força. Então, com o coração na mão porque é algo que dói mais na gente do que neles, o papai segurou a criança e eu com uma seringa forcei que ela bebesse o medicamento. É horrível fazer isso, mas não tem como, o gosto é ruim, eles cospem e não são bobos, eles correm ao ver que você vai tentar faze-los beber aquilo novamente.Ela reclamou, chorou, até tentou bater na gente depois, mas deixamos ela ‘na dela’. Ela voltou a brincar toda feliz e faceira. E adormeceu em seguida pelo efeito do remédio. Respiramos aliviados.

Ai veio a pergunta: como a escola pôde permitir isso?

Eu tinha quase certeza que era o rótulo do frasco usado na escola. Só que, temos que considerar muitos fatores e se há algo que não podemos reclamar da escola onde a Laura é a dedicação das professoras e assistentes com as crianças. Então, por mais que eu tenha ficado possessa, não tenho que culpar ninguém. A questão aqui mais importante do que procurar culpados é informar a escola o ocorrido para que o incidente não aconteça novamente, seja com a Laura ou com qualquer outra criança.

Ninguém deixa uma criança ingerir papel propositalmente. Principalmente na escola onde a Laura estuda. Como mencionei, é uma escola séria onde seus profissionais são dedicados e muito competentes e que sabemos que basta informar o ocorrido que providências serão tomadas. E foi o que fizemos.

Hoje pela manhã, mesmo não sendo meu dia de levar a Laura, acompanhei a Mamãe levando o papel no bolso. Eu queria ter certeza de que minha memória desta vez não tinha falhado.

Conforme a Samara ia contando para a tia o ocorrido, eu pedi a outra tia para ver um frasquinho e mostrei a ela o pedacinho. Juntas conferimos e confirmamos ser do rótulo do frasco, como eu suspeitei. Tudo com muita calma, conversando, porque é assim que deve ser. E como esperávamos, a reação foi imediata: “Vamos tirar todos os rótulos dos frascos.”, foi o que disse a tia. E a outra tia confirmou com a cabeça. Questão resolvida.

É bem provável que isso não tenha acontecido antes ali, pois se tivesse, com certeza os frascos já estariam sem rótulos. Elas são muito cuidadosas em tudo que as crianças brincam e somos muito gratos por essa dedicação. As tias da Laura são muito fofas e nós as adoramos também, assim como a Laura as adora, pois ela adora ir pra escola, ela dá tchau para elas quando vai embora. Crianças são honestas até demais, saberíamos se ela não gostasse delas. 🙂

Enfim. Lição aprendida, ou melhor, lições. E eu fiquei contente por perceber que na hora que precisei eu soube fazer o que precisava. Desde acudir a criança até medicá-la a força e depois, ir até a escola junto com a Samara para confirmar sobre a origem do papel ingerido. E que minha memória, que muitas vezes me deixou na mão com outras coisas conseguiu registrar a imagem do rótulo e associar um pedaço minúsculo dele a imagem registrada ‘no começo do ano’.

Caso encerrado! 🙂


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